quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Suas dores



Suas Dores.
-Permitiste tantos poderes senhor, mais tantos.
-Quais poderes de que falas?
-Dos poderes mundanos. Consigo voar, me atrevo na gravidade, faço mágicas com as palavras e com os ouvidos, ultimamente permitiste que eu estivesse em dois lugares ao mesmo tempo. São tantos poderes meu senhor.
-E do que tu reclamas, se podes tanto?
-Reclamo da dor.
-Qual dor?
-Dos que amo. Dos que tenho em mim guardados. Dos que carrego dentro dos meus órgãos.
-Das tuas dores?
-Já disse. Dos que amo. Dos que trago em minhas vísceras, no meu olfato, nas fantasias.
-Das tuas dores?
-Daquelas dores.
-O que queres fazer com as dores?
-Quero entrar nela, aplicar anestesia, fazer uma cirurgia, arrancar fora.
-As tuas dores?
-Deixa-me chegar perto, aproximar mais um pouco, ficar intima.
-Já não chegaste?
-Que eu possa ao menos guarda-la no bolso esquerdo. No paletó, no jeans surrado, no short branco cor do céu.
-As tuas dores?
-Dos que amo. Dos que invado, dos que sou invadida.
-Pobre filha...
-Tens dó?
-Queria que tu soubesses.
-Da dor?
-Do que é amor.  

Bárbara Cristina

domingo, 2 de junho de 2013

Essas palavras

Abriu a porta e sentou, olhou no espelho e disse:

-Eu sigo ele todos os dias, nos bares, nas ruas, nas redes sociais, nos passos, nas sombras, nas marcas...
-Todos os dias?
-Sim.
-Por que continuar seguindo depois do término?
-...
-Você virou um seguidor dele então?
-Sim.
-Segui(dor)
E continuou, seguindo a dor...
O sr. Dinheiro talvez esteja numa soberania nunca tão tida pela história. É como o caso da senhora Divina da rua 46. Mulher, negra, ateu, lésbica e filha de pais separados. Tinha tudo pra ser discriminada, são estereótipos muito azarentos pra uma pessoa só. E ainda diziam por aí, que ela fumava um beck de vez em quando. Qualquer lugar poderia ocorrer o discurso de : "pretinha, gosta de mulher, com familia desestruturada, não acredita em Deus e ainda drogada..." Mas a senhora Divinha era rica. Tinha o carro, a roupa, a casa e a fortuna e aí não há lógica que esteja em maior hierarquia. A lógica economica é quem dita as regras. É como o caso do gay Abercrombie, que tanta gente tem batido palma, não porque se simpatiza com a causa gay, ou porque passou a entender e respeitar a diversidade sexual, nada a ver. O negócio tem a ver com a razão da economia no patamar da hierarquia. Até Deus fico em segundo plano, não é mais o dogma religioso que dita quem é melhor ou pior. E assim a competição toma conta também. Afinal, hoje tem sido suportavel ser tudo nessa vida, menos pobre.

Perguntas

Perguntas.

Verbo: Conhecer.

Se a inocência e ignorância são paradisíacas, porque as pessoas escolhem o conhecimento que é tão infernal?

Se o ideograma chines de crise é expresso pelo simbolo de perigo e oportunidade significa que quanto mais crise, mais oportunidade?

Bárbara Cristina

Carne Fraca

Carne fraca.

Felicidade é uma mentira sincera ou uma verdade mentirosa?
Ser feliz é possibilidade ou best-seller?
Hedonismo sempre tem a ver com superficialidade?
Prazeres instatâneos duram para sempre?
Intensidade é uma personagem rápida ou apenas indiscreta?
A alegria é sempre sedutora?
Coito emocional interrompido é legítimo?

Bárbara Cristina

Abstinência

Tem medo do que?
-Dos Hábitos. Hábitos viciam, pessoas não necessariamente.

Bárbara Cristina

Contrato

Contrato.

Havia um compromisso de fracasso. Nossos melhores encontros funcionaram nesse compromisso. O fracasso do Encontro. Encontro esse impossível, impalpável, desencontrável. Os encontros são todos desencontráveis. Na minha condição faltosa e ainda reluzente, havia apaixonamentos. Na sua condição incompleta e ainda promissora, havia amor. Sabíamos bem do acordo e por instantes eu gritei paradas obrigatórias. Tentativas infiéis de haver o Encontro. Perdoe-me por romper o contrato. Fui especializando minunciosamente. E me tornei um objeto de estudo. Desses, patológicos. Não foi pela minha inconsistência cotidiana que houve o desamar. Foi na tentativa ingênua, prepotente, imperdoável de ter a qualquer preço o Encontro. Esvaziei os sentidos. Dei o que se tem. Isso é festa, amor é outra coisa. E após toda quebra de contrato, permaneci apaixonada pela insatisfação e me desencontrei com as palavras.

Bárbara Cristina