quinta-feira, 16 de maio de 2013

Pontos de faca.

Quantos enterros já evitamos?
Não se mata por que respira ou por que transpira?
Ciclos terminam sozinhos ou há cheque-mate?
Viver de reminiscências é neurótico ou covarde?
A aceitação do fim é desistência ou coragem?
Assujeitados duram para sempre?
O estranho sempre vai ser algo novo ou só repete o familiar?
Quantas mortes você têm em uma vida?
Há mascara de oxigênio ou respira desejando?
Relacionamentos resistem, persistem ou revive?
Quantas pontos de facas são atingidos com 7 murros?

Bárbara Cristina
Devolva-me

Justo seria um outro tipo de passeio.Um passeio em que você vai e volta. Dá uma volta, ocupa outro lugar, outros sintomas. Um passeio em que voce descansa de si mesmo por algumas horas. Como seria descansar de si mesma por algumas horas?Sair de si, sem estar em si. Passear por outra alma, ou descansar de qualquer alma. Dar um tempo das suas alegrias, repetições, pensamentos, dores e afetos. Como seria desafetar de si mesma?Apenas por alguns segundos, não ser voce mesma. Porque eu sinto, que todos os dias a gente acaba tentando fazer isso. A gente finge que esquece, dissimula pra si mesma, e ás vezes é quase um sucesso. Mas sempre tem uma dor no corpo pra lembrar. Um ato falho quase sádico que grita: Te peguei!Justo seria dar um passeio. Um passeio sem auto-enganos. Em que eu pudesse falar tchau sem nada virar sintoma. Sintomas. O pedido é vitimizado, mas é de extrema autenticidadade. É infantilizado tambem. -Deixa vai, eu ir ali rapidinho, não me encontrar por alguns instantes e saber que eu posso voltar.
Aos meus amigos, parte I.

Eu sempre vou sumir.Não leve a mal.Nem se culpe.Nem me culpe.Vou sair antes do final das brincadeiras sérias da vida.Vou dizer adeus, e vou dar uma desculpa esfarrapada e vou voltar, ás vezes. Eu vou sentir falta, vou pedir retornos e vou embora de novo.Vou perder gentes. Gentes com pressa de vida.Vou me perder em gentes.E vou sentir saudades.Amenizar saudades.Vou aparecer no momento inesperado e vou sumir quando tinha que estar.Eu vou fazer mistério do banal e vou explicitar minhas coisas mais intimas.E vou pedir segredo, e isso não terá a ver com desconfiança.Vou dizer que amo antecipadamente.E logo em seguida, há grandes chances da minha partida.Vou ficar ausente e doer de saudades.E mesmo quando estiver presente, aparentar estar distante.E eu juro, nada é de propósito.É só uma necessidade imensa de sair de cena.De deixar faltas e de lembrar o quanto eu preciso da presença.É que talvez, mais do que tudo, eu preciso me ensimesmar e me apaixonar todos os dias, pela minha própria solidão.E saiba, isso é o meu amor.
Malu, em seu abraço.

Josefina quando pequena tinha problemas em datas comemorativas. Ela ganhava muitos brinquedos, e sempre a reação era a mesma: uma certa apatia recheada de insatisfação. Ninguém entendia o porquê de tão descaso com brinquedos novos. E Josefina adorava brincar, fantasiava muito e preferia fazer isso nos momentos em que estava solitária. A garota tinha um gosto esquisito: era apaixonada pelos brinquedos estragados. Sim, boneca sem cabeça, carrinho faltando rodinha, bola mucha e giz quebrado. Logo, os brinquedos novos não tinha lugar nas brincadeiras de Josefina. E depois de tanto descaso com os presentes, a família dela resolveu presenteá-la com o resto de brinquedos de outras crianças. Pronto, negócio fechado. Nenhuma criança consertou tanto brinquedo como ela. E com o tempo, as coisas não mudaram muito. Josefina só se apaixonava por pessoas estragadas. Sim, dessas patológicas mesmo, cheias de trauma, pânicos, repetições e problemas existenciais. Josefina não ficava sozinha, e frequentava a Igreja aos domingos. Afinal, na Igreja, ela tinha certeza que existiriam milhões de estragos. Havia algo de missionário em Josefina travestido de simpatia com um misto de escuta curiosa. Um dia, Josefina percebeu que não suportava mais tantos estragos. Pois ela mesma já estava toda estragada. E não havia mais especialização que bastasse. Nenhum estragado fazia ela se sentir boa. Foi então que Josefina conheceu Malu. Malu, a sem graça. Malu era normal, aparentemente repulsiva para Josefina. Tinha uma beleza linda, mas de produção, dessas que um monte de gente tem. E ali começou uma história nada familiar. Sem Igrejas, Hospitais e dramas sequenciais. Malu era feliz, dessas bem enganada. Josefina recebeu uma ligação de Malu, no sábado à noite, o convite era raso: Vamos assistir filme em casa? O filme era desses que estreia em qualquer sala de cinema, com grande bilheteria. Isso era o 7º encontro delas. E pela primeira vez Josefina sentiu que era possível estar inteira em algum lugar. E descobriu que doses de normalidade fazia bem para a alma. A noite terminou com Malu dormindo no seu abraço.

Bárbara Cristina
ÁS mães.

Eu desejo que todas as mães tenham condições concretas pra cuidar dos seus filhos.E desejo que todas aquelas que têm não tenham como prioridade na vida as babás humanas ou tecnológicas.Eu desejo que as mães consigam dizer não, limitar é amor. Eu desejo muito que elas não se culpem quando os filhos não forem a imagem ideal que elas sempre planejaram, e que planejem menos, mas estejam por perto. Eu desejo que elas não insistam, nem convençam seus filhos que eles são a coisa mais especial do mundo, porque eles não são, todos somos uma bobagem e não há NENHUM problema nisso, com bobagens dá pra se reinventar muita coisa. Eu desejo que as mães abracem, beijem e se possível não sufoquem.Mas abracem muito. Eu desejo que elas tenham um amor romântico. Desejo que elas não se culpem por odiar em certos momentos seus filhos e que consiga amá-los mesmo assim.Desejo que elas compreendam que ter um filho na barriga pode ser de uma estranheza péssima ou de uma completude momentânea, e que elas ainda consigam ter um pouco de paz com toda essa intensidade.E desejo acima de tudo, que todas as mulheres, tenham o direito de são ser mãe, quando não desejarem e nem por isso deixam de ser menos mulheres por isso.Á todas as mães, e a minha principalmente, meu maior amor.

Bárbara Cristina