domingo, 14 de abril de 2013

5 unhas na mão esquerda.

5 unhas na mão esquerda.

O Pedro da padaria perdeu a casa há 3 anos,
Joana perdeu o emprego na década passada
Valquiria perdeu duas unhas da mão direita
Suzanna dois namorados no ano de 2000
Felícia perde vários segundos de tempo vivendo as perdas
Galego ainda está perdendo os 3 gols do campeonato passado.
E nessas perdas todas
Cada personagem ainda vela os mortos
Vela todas os dias, acorda e faz o ritual
Suzanna ainda tenta descobrir porque a perda de dois namorados
Teve pistas e segue criteriosa na busca
Galego sonha na segunda que fez 3 gols, na terça 6 e no sábado 9
Seguem como sujeitos tristes, apaixonados pelo sofrimento da perda
Só Valquiria perdeu mesmo
Vestiu-se de preto, chorou 10 dias, fez o luto
E vive em paz, com 3 unhas na mão direita
e 5 na mão esquerda.





sábado, 13 de abril de 2013

O Assalto

O assalto.

Esses assaltos cotidianos.
Bala perdida não faz sentido.
Morte súbita do amado não faz sentido.
Desamor instatâneo não faz sentido.
Impulsividade do pathos não faz sentido.
A necessidade do controle 
O não lidar com o mistério 
E a incapacidade com a não representação
torna a imprevisibilidade sem sentido.
O assalto.
Assalto é súbito, espontâneo, invasivo.
Como a humanidade.
Pathos.
Falta de nomes.
Angústia.
Esse sentido faltoso.
Ou toda essa falta de sentido.

Bárbara Cristina

Capitalismo, ratos obsessivos.

Capitalismo, ratos obsessivos.

Eles estão acumulando coisas,
Retendo variedades, controlando horas de prazeres,
Estão destituídos dos próprios afetos,
E estão incapazes de bancarem seus desejos,
Pedindo e obedecendo discursos neuróticos,
Nasça!Discipline!Forme!Reproduza,
E se contente com migalhas de segundos no ócio,
Cronometre tudo,
Em troca, terão os excessos
O lucro como promessa de completado
Esse lucro fálico
E casa ainda haja alguma falta,
Será pela ausência de metas, ou talvez porque tenham se tornado ratos obsessivos.

Barbara Cristina

Jogo de acordos

O que é melhor: Estar com o outro e se perder um pouco ou nem estar com o outro?

Segredos só se contam quando se contam?Ou só um conta?

No assalto da bolsa, quem foi mais esperto, o que aceitou ficar com a vida ou o que lutou pra ter as duas?

Tem prazer em sofrimento, ou tem sofrimento no prazer?

A criança reparte o lego e perde o navio ou carrega o lego e ganha a solidão?

Quem tem liberdade, o que pediu limites ou que pediu alienação?

Mata-se o enlutado ou morre de luto?

...

Bárbara Cristina

Linguagem asfixiante.

Linguagem asfixiante.

Buscou nas palavras
Começou pelas letras rústicas
Voltou no abecedário
Tentou com as vogais
Fez alguns sons
Procurou nos desenhos
Desenhou 7 vezes
Rabiscou logo em seguida
Pegou tintas de todas as cores
Combinou todas as cores possíveis
Procurou nos outros idiomas
E depois de todas essas tentativas
descobriu que o que sentia não podia ser linguajado.
E mesmo no não dito, no incontemplável
Conseguiu parar de se angustiar com a linguagem.
Se entrelaçou nos movimentos do corpo
dos orgãos, da respiração, das bolhas marcadas
E começou a ter vários momentos de paz.

Bárbara Cristina