domingo, 2 de junho de 2013

Essas palavras

Abriu a porta e sentou, olhou no espelho e disse:

-Eu sigo ele todos os dias, nos bares, nas ruas, nas redes sociais, nos passos, nas sombras, nas marcas...
-Todos os dias?
-Sim.
-Por que continuar seguindo depois do término?
-...
-Você virou um seguidor dele então?
-Sim.
-Segui(dor)
E continuou, seguindo a dor...
O sr. Dinheiro talvez esteja numa soberania nunca tão tida pela história. É como o caso da senhora Divina da rua 46. Mulher, negra, ateu, lésbica e filha de pais separados. Tinha tudo pra ser discriminada, são estereótipos muito azarentos pra uma pessoa só. E ainda diziam por aí, que ela fumava um beck de vez em quando. Qualquer lugar poderia ocorrer o discurso de : "pretinha, gosta de mulher, com familia desestruturada, não acredita em Deus e ainda drogada..." Mas a senhora Divinha era rica. Tinha o carro, a roupa, a casa e a fortuna e aí não há lógica que esteja em maior hierarquia. A lógica economica é quem dita as regras. É como o caso do gay Abercrombie, que tanta gente tem batido palma, não porque se simpatiza com a causa gay, ou porque passou a entender e respeitar a diversidade sexual, nada a ver. O negócio tem a ver com a razão da economia no patamar da hierarquia. Até Deus fico em segundo plano, não é mais o dogma religioso que dita quem é melhor ou pior. E assim a competição toma conta também. Afinal, hoje tem sido suportavel ser tudo nessa vida, menos pobre.

Perguntas

Perguntas.

Verbo: Conhecer.

Se a inocência e ignorância são paradisíacas, porque as pessoas escolhem o conhecimento que é tão infernal?

Se o ideograma chines de crise é expresso pelo simbolo de perigo e oportunidade significa que quanto mais crise, mais oportunidade?

Bárbara Cristina

Carne Fraca

Carne fraca.

Felicidade é uma mentira sincera ou uma verdade mentirosa?
Ser feliz é possibilidade ou best-seller?
Hedonismo sempre tem a ver com superficialidade?
Prazeres instatâneos duram para sempre?
Intensidade é uma personagem rápida ou apenas indiscreta?
A alegria é sempre sedutora?
Coito emocional interrompido é legítimo?

Bárbara Cristina

Abstinência

Tem medo do que?
-Dos Hábitos. Hábitos viciam, pessoas não necessariamente.

Bárbara Cristina

Contrato

Contrato.

Havia um compromisso de fracasso. Nossos melhores encontros funcionaram nesse compromisso. O fracasso do Encontro. Encontro esse impossível, impalpável, desencontrável. Os encontros são todos desencontráveis. Na minha condição faltosa e ainda reluzente, havia apaixonamentos. Na sua condição incompleta e ainda promissora, havia amor. Sabíamos bem do acordo e por instantes eu gritei paradas obrigatórias. Tentativas infiéis de haver o Encontro. Perdoe-me por romper o contrato. Fui especializando minunciosamente. E me tornei um objeto de estudo. Desses, patológicos. Não foi pela minha inconsistência cotidiana que houve o desamar. Foi na tentativa ingênua, prepotente, imperdoável de ter a qualquer preço o Encontro. Esvaziei os sentidos. Dei o que se tem. Isso é festa, amor é outra coisa. E após toda quebra de contrato, permaneci apaixonada pela insatisfação e me desencontrei com as palavras.

Bárbara Cristina

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Pontos de faca.

Quantos enterros já evitamos?
Não se mata por que respira ou por que transpira?
Ciclos terminam sozinhos ou há cheque-mate?
Viver de reminiscências é neurótico ou covarde?
A aceitação do fim é desistência ou coragem?
Assujeitados duram para sempre?
O estranho sempre vai ser algo novo ou só repete o familiar?
Quantas mortes você têm em uma vida?
Há mascara de oxigênio ou respira desejando?
Relacionamentos resistem, persistem ou revive?
Quantas pontos de facas são atingidos com 7 murros?

Bárbara Cristina
Devolva-me

Justo seria um outro tipo de passeio.Um passeio em que você vai e volta. Dá uma volta, ocupa outro lugar, outros sintomas. Um passeio em que voce descansa de si mesmo por algumas horas. Como seria descansar de si mesma por algumas horas?Sair de si, sem estar em si. Passear por outra alma, ou descansar de qualquer alma. Dar um tempo das suas alegrias, repetições, pensamentos, dores e afetos. Como seria desafetar de si mesma?Apenas por alguns segundos, não ser voce mesma. Porque eu sinto, que todos os dias a gente acaba tentando fazer isso. A gente finge que esquece, dissimula pra si mesma, e ás vezes é quase um sucesso. Mas sempre tem uma dor no corpo pra lembrar. Um ato falho quase sádico que grita: Te peguei!Justo seria dar um passeio. Um passeio sem auto-enganos. Em que eu pudesse falar tchau sem nada virar sintoma. Sintomas. O pedido é vitimizado, mas é de extrema autenticidadade. É infantilizado tambem. -Deixa vai, eu ir ali rapidinho, não me encontrar por alguns instantes e saber que eu posso voltar.
Aos meus amigos, parte I.

Eu sempre vou sumir.Não leve a mal.Nem se culpe.Nem me culpe.Vou sair antes do final das brincadeiras sérias da vida.Vou dizer adeus, e vou dar uma desculpa esfarrapada e vou voltar, ás vezes. Eu vou sentir falta, vou pedir retornos e vou embora de novo.Vou perder gentes. Gentes com pressa de vida.Vou me perder em gentes.E vou sentir saudades.Amenizar saudades.Vou aparecer no momento inesperado e vou sumir quando tinha que estar.Eu vou fazer mistério do banal e vou explicitar minhas coisas mais intimas.E vou pedir segredo, e isso não terá a ver com desconfiança.Vou dizer que amo antecipadamente.E logo em seguida, há grandes chances da minha partida.Vou ficar ausente e doer de saudades.E mesmo quando estiver presente, aparentar estar distante.E eu juro, nada é de propósito.É só uma necessidade imensa de sair de cena.De deixar faltas e de lembrar o quanto eu preciso da presença.É que talvez, mais do que tudo, eu preciso me ensimesmar e me apaixonar todos os dias, pela minha própria solidão.E saiba, isso é o meu amor.
Malu, em seu abraço.

Josefina quando pequena tinha problemas em datas comemorativas. Ela ganhava muitos brinquedos, e sempre a reação era a mesma: uma certa apatia recheada de insatisfação. Ninguém entendia o porquê de tão descaso com brinquedos novos. E Josefina adorava brincar, fantasiava muito e preferia fazer isso nos momentos em que estava solitária. A garota tinha um gosto esquisito: era apaixonada pelos brinquedos estragados. Sim, boneca sem cabeça, carrinho faltando rodinha, bola mucha e giz quebrado. Logo, os brinquedos novos não tinha lugar nas brincadeiras de Josefina. E depois de tanto descaso com os presentes, a família dela resolveu presenteá-la com o resto de brinquedos de outras crianças. Pronto, negócio fechado. Nenhuma criança consertou tanto brinquedo como ela. E com o tempo, as coisas não mudaram muito. Josefina só se apaixonava por pessoas estragadas. Sim, dessas patológicas mesmo, cheias de trauma, pânicos, repetições e problemas existenciais. Josefina não ficava sozinha, e frequentava a Igreja aos domingos. Afinal, na Igreja, ela tinha certeza que existiriam milhões de estragos. Havia algo de missionário em Josefina travestido de simpatia com um misto de escuta curiosa. Um dia, Josefina percebeu que não suportava mais tantos estragos. Pois ela mesma já estava toda estragada. E não havia mais especialização que bastasse. Nenhum estragado fazia ela se sentir boa. Foi então que Josefina conheceu Malu. Malu, a sem graça. Malu era normal, aparentemente repulsiva para Josefina. Tinha uma beleza linda, mas de produção, dessas que um monte de gente tem. E ali começou uma história nada familiar. Sem Igrejas, Hospitais e dramas sequenciais. Malu era feliz, dessas bem enganada. Josefina recebeu uma ligação de Malu, no sábado à noite, o convite era raso: Vamos assistir filme em casa? O filme era desses que estreia em qualquer sala de cinema, com grande bilheteria. Isso era o 7º encontro delas. E pela primeira vez Josefina sentiu que era possível estar inteira em algum lugar. E descobriu que doses de normalidade fazia bem para a alma. A noite terminou com Malu dormindo no seu abraço.

Bárbara Cristina
ÁS mães.

Eu desejo que todas as mães tenham condições concretas pra cuidar dos seus filhos.E desejo que todas aquelas que têm não tenham como prioridade na vida as babás humanas ou tecnológicas.Eu desejo que as mães consigam dizer não, limitar é amor. Eu desejo muito que elas não se culpem quando os filhos não forem a imagem ideal que elas sempre planejaram, e que planejem menos, mas estejam por perto. Eu desejo que elas não insistam, nem convençam seus filhos que eles são a coisa mais especial do mundo, porque eles não são, todos somos uma bobagem e não há NENHUM problema nisso, com bobagens dá pra se reinventar muita coisa. Eu desejo que as mães abracem, beijem e se possível não sufoquem.Mas abracem muito. Eu desejo que elas tenham um amor romântico. Desejo que elas não se culpem por odiar em certos momentos seus filhos e que consiga amá-los mesmo assim.Desejo que elas compreendam que ter um filho na barriga pode ser de uma estranheza péssima ou de uma completude momentânea, e que elas ainda consigam ter um pouco de paz com toda essa intensidade.E desejo acima de tudo, que todas as mulheres, tenham o direito de são ser mãe, quando não desejarem e nem por isso deixam de ser menos mulheres por isso.Á todas as mães, e a minha principalmente, meu maior amor.

Bárbara Cristina

domingo, 14 de abril de 2013

5 unhas na mão esquerda.

5 unhas na mão esquerda.

O Pedro da padaria perdeu a casa há 3 anos,
Joana perdeu o emprego na década passada
Valquiria perdeu duas unhas da mão direita
Suzanna dois namorados no ano de 2000
Felícia perde vários segundos de tempo vivendo as perdas
Galego ainda está perdendo os 3 gols do campeonato passado.
E nessas perdas todas
Cada personagem ainda vela os mortos
Vela todas os dias, acorda e faz o ritual
Suzanna ainda tenta descobrir porque a perda de dois namorados
Teve pistas e segue criteriosa na busca
Galego sonha na segunda que fez 3 gols, na terça 6 e no sábado 9
Seguem como sujeitos tristes, apaixonados pelo sofrimento da perda
Só Valquiria perdeu mesmo
Vestiu-se de preto, chorou 10 dias, fez o luto
E vive em paz, com 3 unhas na mão direita
e 5 na mão esquerda.





sábado, 13 de abril de 2013

O Assalto

O assalto.

Esses assaltos cotidianos.
Bala perdida não faz sentido.
Morte súbita do amado não faz sentido.
Desamor instatâneo não faz sentido.
Impulsividade do pathos não faz sentido.
A necessidade do controle 
O não lidar com o mistério 
E a incapacidade com a não representação
torna a imprevisibilidade sem sentido.
O assalto.
Assalto é súbito, espontâneo, invasivo.
Como a humanidade.
Pathos.
Falta de nomes.
Angústia.
Esse sentido faltoso.
Ou toda essa falta de sentido.

Bárbara Cristina

Capitalismo, ratos obsessivos.

Capitalismo, ratos obsessivos.

Eles estão acumulando coisas,
Retendo variedades, controlando horas de prazeres,
Estão destituídos dos próprios afetos,
E estão incapazes de bancarem seus desejos,
Pedindo e obedecendo discursos neuróticos,
Nasça!Discipline!Forme!Reproduza,
E se contente com migalhas de segundos no ócio,
Cronometre tudo,
Em troca, terão os excessos
O lucro como promessa de completado
Esse lucro fálico
E casa ainda haja alguma falta,
Será pela ausência de metas, ou talvez porque tenham se tornado ratos obsessivos.

Barbara Cristina

Jogo de acordos

O que é melhor: Estar com o outro e se perder um pouco ou nem estar com o outro?

Segredos só se contam quando se contam?Ou só um conta?

No assalto da bolsa, quem foi mais esperto, o que aceitou ficar com a vida ou o que lutou pra ter as duas?

Tem prazer em sofrimento, ou tem sofrimento no prazer?

A criança reparte o lego e perde o navio ou carrega o lego e ganha a solidão?

Quem tem liberdade, o que pediu limites ou que pediu alienação?

Mata-se o enlutado ou morre de luto?

...

Bárbara Cristina

Linguagem asfixiante.

Linguagem asfixiante.

Buscou nas palavras
Começou pelas letras rústicas
Voltou no abecedário
Tentou com as vogais
Fez alguns sons
Procurou nos desenhos
Desenhou 7 vezes
Rabiscou logo em seguida
Pegou tintas de todas as cores
Combinou todas as cores possíveis
Procurou nos outros idiomas
E depois de todas essas tentativas
descobriu que o que sentia não podia ser linguajado.
E mesmo no não dito, no incontemplável
Conseguiu parar de se angustiar com a linguagem.
Se entrelaçou nos movimentos do corpo
dos orgãos, da respiração, das bolhas marcadas
E começou a ter vários momentos de paz.

Bárbara Cristina

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Platão.

Platão pediu para que João vivesse dos futuros.
Mas futuros tava longe e João era impaciente.
Platão prometeu terras prometidas.
Mas desejos não esperam terras prometidas.
Platão contou de um lugar ideal.
Mas o idealismo de João tinha pressa.
Platão continuou falando.
E João permaneceu vivendo.

Bárbara Cristina

Platão.

Como viver você sem falar de você?
Platonismo realizado.
Necessidade de grito ou vontade de suspiros?
Repita comigo.

Bárbara Cristina
Repetição des(amorosa).

Somos tão repetitivos. Chatos repetitivos. Insistentes repetitivos.Repetimos e ás vezes não sabemos.Repetimos e ás vezes sabemos. Sabemos e continuamos repetindo, mesmo achando, com toda a certeza que dessa vez não, inocências repetitivas. Tem gente que repete para ser desamado. Desamor é a repetição mais cruel dessa singularidade. Sim, conseguir a qualquer preço uma prova de desamor. De desapaixonamento.E aí quando repetido, um alívio, afinal, essa história dolorosa já é de capítulos anteriores, mesmo numa roupagem nova. Insistir para o outro que esse outro não te ama. Insistencia covarde. Uma tentativa, duas tentativas, (n) tentativas.Enquanto há tentativa há porque permanecer.Enquanto não se tira do outro as palavras de não apaixonamento, não há paz. Autosabotagens, boicote. Verbo confessar. Sem confessionário. Há porque se partir. Afinal, o fracasso era o amor.E o desamor, já é bem conhecido. E agora, explicitado.Confessado. Há porque se partir com o desamor confessado.

Bárbara Cristina