domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sinto falta de sentir




É, como ja disse Caio Fernando de Abreu, "ando meio fatigada de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis..."Ás vezes sinto falta de momentos em que chorei, sofri e gritei.De momentos que sorri,mordi e beijei.Sinto falta da dor e do prazer alternando-se em volta da mesma pessoa, ou do mesmo alguém.Sinto falta de sentir alguém ou sentir por alguém.Não acho graça com facilidade e não me encanto com obviedades.O fácil me desanima e o difícil me cansa.Queria algo meio termo.Meio dor, meio prazer, meio amor.Queria amor.Sinto falta de achar os outros interessantes, de buscar informações, de conquistar e ser conquistada todos os dias.As flores que me oferecem murcham, as palavras ficam clichês e os beijos não viram mais lembranças.Sinto falta de viciar em alguém e virar vicío também.Hoje, as pessoas tão custando a me despertar vontades...Sinto falta do desejo louco de encontrar, e da necessidade insana de ficar.E quando eu digo ficar, não é o ficar metafórico, é ficar junto, permanecer perto, independente de qualquer coisa.Sinto falta de bons dias, boas noites e de conversas infinitas.Sinto falta de me apaixonar, mesmo que seja sozinha, mesmo que seja por alguns instantes, sinto falta de sentir...Hoje, talvez o único sentimento seja o sentir falta, e confesso que preciso preencher...Sinto falta de acreditar em amores impossíveis, nao, isso eu ate ainda acredito, eu sinto falta mesmo é do mundo me dizer que é impossível, e mesmo assim eu querer provar que não é...Sinto falta de lutar por algo que pode ser tão díficil,mas eu só queria voltar a lutar...Mas sinceramente, não sinto falta de pseudo-companhia, não sinto falta de acreditar que havia segurança, confiança e na verdade só havia momento, tudo efêmero.Enquanto não tiver verdadeira companhia, eu escolho sentir falta disso tudo, afinal, desde que "minha solidão se tornou minha melhor companhia, eu só me interesso por pessoas incríveis"...

Bárbara Cristina

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Obrigada Fantasia



Até que ponto essa realidade me atormenta e essa fantasia me acalenta?É tão difícil você se obrigar a lidar com o palpável, o concreto , sendo tudo que o mais te atrai é o abstrato.A imaginação, ou não-ocorrido, o ocorrido ou não.Pra que essa necessidade de coerência, de ou, de certezas e definições, metas e traçados.O incoerente é tão mais gostoso, mais misterioso, mais fogoso.Pra que ser ou não ser, se pode ser e nao-ser ao mesmo tempo.Que relevância é essa de ter que saber tudo que se sente, tudo que se passa, tudo que se quer.Sendo que tudo muda, constante tranformação.Hoje sim, amanhã talvez, semana que vem não, mes que vem sim de novo e por diante...Que mania é essa de realidade, sendo que a fantasia é tão mais gostosa.Me deparo num mundo ao qual a necessidade do real é tão tamanha e de repente me perco num leque de fantasias que me fazem tão bem, e depois tão mal.Fantasias criativas, histórias, começos, términos, criação de emoções e lágrimas bem inventadas.É como se houvesse uma dramaturgia real, uma novela sem felizes para sempre e um filme sem final.É como se eu fosse a autora disso e pudesse fazer cada roteiro, cada virada de página, e os meus personagens de repente saem desse filme ao qual eu não mais mando em nada.Uma mentira que vira verdade,uma palavra que vira discurso, um carinho que vira história de amor.Uma vontade que vira desejo, um olhar que vira completude.Um abraço que vira insinuação, um toque que vira paixão....A fantasia é hiperbólica, é manipuladora, é persuasiva e é doente...A realidade a torna doente...Que seja doente, que seja patológica, pra ser feliz, eu prefiro não ter a cura.Obrigada Fantasia.

Bárbara Cristina

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Os Quatro Fantasmas

"Leiga, totalmente leiga em psicanálise, é o que eu sou. Mas interessada como se dela dependesse minha sobrevivência. Para saciar essa minha curiosidade, costumo ler alguns livros sobre o assunto, e outro dia, envolvida por um texto instigante - acho que da Viviane Mosé, que já foi mencionada nesta página anteriormente - me deparei com as quatro principais questões que assombram nossas vidas e que determinam nossa sanidade mental. São elas:
1) Sabemos que vamos morrer.
2) Somos livres para viver como desejamos.
3) Nossa solidão é intrínseca.
4) A vida não tem sentido.
Basicamente, isso. Nossas maiores angústias e dificuldades advêm da maneira como lidamos com nossa finitude, com nossa liberdade, com nossa solidão e com a gratuidade da vida. Sábio é aquele que, diante dessas quatro verdades, não se desespera.
Realmente, não são questões fáceis. A consciência de que vamos morrer talvez seja a mais desestabilizadora, mas costumamos pensar nisso apenas quando há uma ameaça concreta: o diagnóstico de uma doença ou o avanço da idade. As outras perturbações são mais corriqueiras. Somos livres para escolher o que fazer de nossas vidas, e isso é amedrontador, pois coloca responsabilidade em nossas mãos. A solidão assusta, mas sabemos que há como conviver com ela: basta que a gente dê conteúdo à nossa existência, que tenhamos uma vontade incessante de aprender, de saber, de se autoconhecer. Quanto à gratuidade da vida, alguns resolvem com religião, outros com bom humor e humildade. O que estamos fazendo aqui? Estamos todos de passagem. Portanto, não aborreça os outros e nem a si próprio, trade de fazer o bem e de se divertir, que já é um grande projeto pessoal. Volto a destacar: bom humor e humildade são essenciais para ficarmos em paz. Os arrogantes são os que menos conseguem conviver com a finitude, a liberdade, com a solidão e com a falta de sentido da vida. Eles se julgam imortais, eles querem ditar as regras para os outros, eles recusam o silêncio e não vivem sem os aplausos e holofotes, dos quais são patéticos dependentes. A arrogância e a falta de humor conduzem muita gente a um sofrimento que poderia ser bastante minimizado: bastaria que eles tivessem mais tolerância diante das incertezas.
Tudo é incerto, a começar pelo dia e a hora da nossa morte. Incerto é o nosso destino, pois, por mais que façamos escolhas, elas só se mostrarão acertadas ou desastrosas lá adiante, na hora do balanço final. Incertos são nossos amores, e por isso é tão importante sentir-se bem mesmo estando só. Enfim, incerta é a vida e tudo o que ela comporta. Somos aprendizes, somos novatos, mas beneficiários de uma dádiva: nascemos. Tivemos a chance de existir. De se relacionar. De fazer tentativas. O sentido disso tudo? Fazer parte. Simplesmente fazer parte.
Muitos têm uma dificuldade tremenda em aceitar essa transitoriedade. Por isso a psicoterapia é tão benéfica. Ela estende a mão e ajuda a domar nosso medo. Só convivendo com esses quatro fantasmas - finitude, liberdade, solidão e falta de sentido da vida - é que conseguiremos aravessar os dias de forma mais alegre e desassombrada..."

Martha Medeiros

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Strip-tease de Alma



Não tinha mais escolhas, maneiras ou formas de te encontrar.Não tinha mais cartas, estratégias ou planejamentos emocionais.Nada mais adiantava.Alcancei o inalcansável em relação a você.Improvável comunicação, impossível reconciliação.Então resolvi.Decidi que tinha que dizer o que senti.Não porque eu quero ver você, ou porque preciso da sua presença, mas um mal resolvido interno me consumiu e não vou guardar isso só pra mim.Pensei em cartas, telefonemas, mensagens, e coisas do gênero.Nada me consolou.Pensei em marcar um encontro.Ainda não era o que queria.Foi aí que fiz o melhor e o pior pra mim.Strip-tease de alma...

Liguei o carro, peguei os poemas, as cartas, e liguei o som.Tocava Heartless.Realmente, tinha tudo a ver com o momento.Talvez eu deveria ser um pouco sem coração...Cheguei na sua porta, toquei o interfone e entrei sem nem mesmo cumprimentar você.Tudo que eu não queria naquele momento era cerimônia ou educação forçada.Disse apenas: venha aqui e me escute, não fale, nao grite , não berre, nao reclame e nem me peça desculpas.Apenas ouça
E assim começou o meu Strip-tease...
Tirei o Orgulho:
Olha, eu sei que eu não deveria ter vindo, eu sei que essa foi a pior idéia, eu sei que talvez você nem lembra que eu exista e que eu não faço falta na sua vida, mas isso sinceramente não me importa, eu vim ver você porque eu precisava saber que você ainda existe e que está bem com minha ausência.Eu preciso do seu bem pra continuar bem...

Depois, com delicadeza tirei as mentiras:
Olha, eu menti quando disse que ia ficar tudo bem sem você rapidamente, eu menti quando achei q vc era substituivel, eu menti quando falei pra voce sumir da minha vida e que depois disso eu ia ter paz, a sua ausência só me mostrou guerra de espírito...

Com raiva, tirei o eufemismo:
Muitas vezes eu odiei você, e sinceramente as vezes ainda odeio, por saber que talvez eu não tenha signifcado o que pensei que significava pra você, por você desaparecer e achar que com isso foi o melhor pra mim, talvez ate tenha sido, mas eu odeio o fato de vc me esquecer...

E por último, com mais dificuldade a Persona caiu...
Eu choro sim, choro porque você foi a melhor e pior coisa que me aconteceu, essas lágrimas podem ser ridículas mas foram tudo que sobraram de você, porque elas sim são sinceras, são reais...Eu choro porque depois de vc eu mudei mto e foi uma mudança tão boa que eu choro por nao poder nem sequer agradecer...Eu choro porque eu perdi você e perder vc, fez com que eu me encontrasse e isso me incomoda tanto mais tanto....

E assim, eu terminei o meu Strip-tease de Alma, o melhor e mais profundo de todos...

Bárbara Cristina

ps: inspirado em texto de Martha Medeiros, Strip-tease.