quinta-feira, 16 de maio de 2013

Malu, em seu abraço.

Josefina quando pequena tinha problemas em datas comemorativas. Ela ganhava muitos brinquedos, e sempre a reação era a mesma: uma certa apatia recheada de insatisfação. Ninguém entendia o porquê de tão descaso com brinquedos novos. E Josefina adorava brincar, fantasiava muito e preferia fazer isso nos momentos em que estava solitária. A garota tinha um gosto esquisito: era apaixonada pelos brinquedos estragados. Sim, boneca sem cabeça, carrinho faltando rodinha, bola mucha e giz quebrado. Logo, os brinquedos novos não tinha lugar nas brincadeiras de Josefina. E depois de tanto descaso com os presentes, a família dela resolveu presenteá-la com o resto de brinquedos de outras crianças. Pronto, negócio fechado. Nenhuma criança consertou tanto brinquedo como ela. E com o tempo, as coisas não mudaram muito. Josefina só se apaixonava por pessoas estragadas. Sim, dessas patológicas mesmo, cheias de trauma, pânicos, repetições e problemas existenciais. Josefina não ficava sozinha, e frequentava a Igreja aos domingos. Afinal, na Igreja, ela tinha certeza que existiriam milhões de estragos. Havia algo de missionário em Josefina travestido de simpatia com um misto de escuta curiosa. Um dia, Josefina percebeu que não suportava mais tantos estragos. Pois ela mesma já estava toda estragada. E não havia mais especialização que bastasse. Nenhum estragado fazia ela se sentir boa. Foi então que Josefina conheceu Malu. Malu, a sem graça. Malu era normal, aparentemente repulsiva para Josefina. Tinha uma beleza linda, mas de produção, dessas que um monte de gente tem. E ali começou uma história nada familiar. Sem Igrejas, Hospitais e dramas sequenciais. Malu era feliz, dessas bem enganada. Josefina recebeu uma ligação de Malu, no sábado à noite, o convite era raso: Vamos assistir filme em casa? O filme era desses que estreia em qualquer sala de cinema, com grande bilheteria. Isso era o 7º encontro delas. E pela primeira vez Josefina sentiu que era possível estar inteira em algum lugar. E descobriu que doses de normalidade fazia bem para a alma. A noite terminou com Malu dormindo no seu abraço.

Bárbara Cristina

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