Suas Dores.
-Permitiste tantos poderes senhor, mais tantos.
-Quais poderes de que falas?
-Dos poderes mundanos. Consigo voar, me atrevo na gravidade,
faço mágicas com as palavras e com os ouvidos, ultimamente permitiste que eu
estivesse em dois lugares ao mesmo tempo. São tantos poderes meu senhor.
-E do que tu reclamas, se podes tanto?
-Reclamo da dor.
-Qual dor?
-Dos que amo. Dos que tenho em mim guardados. Dos que
carrego dentro dos meus órgãos.
-Das tuas dores?
-Já disse. Dos que amo. Dos que trago em minhas vísceras, no
meu olfato, nas fantasias.
-Das tuas dores?
-Daquelas dores.
-O que queres fazer com as dores?
-Quero entrar nela, aplicar anestesia, fazer uma cirurgia,
arrancar fora.
-As tuas dores?
-Deixa-me chegar perto, aproximar mais um pouco, ficar
intima.
-Já não chegaste?
-Que eu possa ao menos guarda-la no bolso esquerdo. No
paletó, no jeans surrado, no short branco cor do céu.
-As tuas dores?
-Dos que amo. Dos que invado, dos que sou invadida.
-Pobre filha...
-Tens dó?
-Queria que tu soubesses.
-Da dor?
-Do que é amor.
Bárbara Cristina